Matéria retirada do Jornal da Tarde de 13/12/09
Depois de conter a sangria dos downloads ilegais, a discussão na web é quanto cobrar
Marco Bezzi
Elas surgiram como capim em uma terra que parecia de ninguém, prontas para serem baixadas sem custo nem constrangimento. A indústria da música gritou e as restrições à farra dos downloads chegaram. Sites fanfarrões tiveram de entrar nos eixos em nome do direito autoral e baixar música de graça deixou de ser aquela festa da uva.
O segundo capítulo dessa saga começa aqui. A mesma indústria que estancou a sangria dos downloads gratuitos deve respostas aos fãs que, ok, querem pagar para ouvir seus ídolos. Afinal, qual é o preço justo de uma música?
O empresário da cantora Mallu Magalhães, Rafael Rossatto, encomendou uma pesquisa ao Ibope, ainda inédita, que traz números curiosos. “O jovem quer que uma música custe no máximo R$ 1,30 na internet”, diz ele.
Das poucas lojas que vendem música digital no Brasil, a Nokia Store é a que tem o maior acervo, com 6 milhões de faixas. Cada uma sai por R$ 2,50. Se fosse comparar o serviço com um CD de 15 músicas, o preço seria R$ 37,50. Sem encarte nem caixinha.
Harley Adrian, diretor de entretenimento da marca para o Brasil, explica: “Foi um preço estipulado pela indústria. Até queríamos ter uma margem maior, para baixo e para cima”. Adrian explica que o maior trunfo deles não está no preço, mas no programa chamado Comes With Music. “Quem compra um aparelho com essa designação pode ter um ano de download grátis.”
Ainda que não esteja com preços ideais aos fãs, a quantidade de faixas baixadas ajuda a dar uma dimensão da demanda no crescente mercado: “Acabei de saber que batemos os 10 milhões de downloads”.
Quem sempre esteve à frente no quesito música em celular foi a Deckdisc, do empresário João Augusto. Ele pondera preços e reconhece que os lucros maiores estão no meio virtual. “A música tem valor inestimável para os consumidores e está presente em todas as situações do cotidiano. Essa exposição fez com que os preços sofressem alterações. Mas, por mais incrível que possa parecer, a venda digital remunera muito mais do que o comércio tradicional.”
Se é assim mesmo, alguém está dormindo no ponto. O fato é que ainda há poucas lojas e alternativas para quem gostaria de comprar canções pela internet. “O Brasil só vai entrar no mundo digital mesmo quando a iTunes Store (maior loja de venda digital do mundo) chegar aqui”, diz o produtor Rick Bonadio, responsável por sucessos adolescentes como NX Zero e Fresno.
As grandes gravadoras, que tentaram brecar a tecnologia no final dos anos 90, entendem agora que têm de se unir ao meio digital. Claudio Vargas, diretor de novos negócios da Sony Music - que só em 2006 implantou a plataforma digital - diz que o mercado virtual só vem crescendo. “No ano passado crescemos 80%. A tendência é de que a cada ano tenhamos mais clientes.”
Alheios à discussão de quanto vale o som, artistas independentes resolveram peitar os especialistas e disponibilizaram suas músicas gratuitamente. “O artista tem de estar atento às novas formas de divulgação e consumo”, acredita a cantora Pitty. “Estou procurando parceiros para conseguir disponibilizar conteúdo gratuito, mas patrocinado, no meu site. Em um país em que o salário mínimo não chega a R$ 500, um CD não pode custar R$ 30.”
Sua posição ganha ressalvas. “Artista que coloca música de graça na internet é um estúpido”, fala Bonadio. “Isso fez com que a música se desvalorizasse e o resultado nós vamos ver no ano que vem. Nenhuma gravadora grande vai investir em novos artistas. É uma coisa catastrófica.”
Enquanto a pergunta do ‘quanto vale a canção’ é feita e refeita, o império continua mudando de mãos. Segundo a Associação Brasileira de Produtores de Discos (ABPD), 15% dos R$ 337 milhões arrecadados em 2008 vieram da música digital. Desses, 78% só do que foi consumido em celulares.
Até mesmo os Beatles, que sempre estiveram longe deste mundo, disponibilizaram este ano seu conteúdo para a loja iTunes Store e lançaram um pen drive em formato de maçã (por £ 200, algo em torno de R$ 600) com os 14 álbuns de carreira da banda remasterizados com minidocumentários. Já o Radiohead colocou seu último CD, In Rainbows (2008), na web para que o consumidor pagasse quanto quisesse.
Mesmo com toda a euforia na web, produtores acreditam que artistas precisam sim assinar com uma grande gravadora. Mallu Magalhães, por exemplo, acaba de trocar a condição de queridinha da web por um bom contrato com a Sony Music.
João Augusto puxa a sardinha para si. “A gravadora, com seus profissionais que administram direitos, distribuem conteúdos, fazem o marketing e divulgam os trabalhos, oferece ao artista o melhor planejamento. Por mais que um músico seja independente, ele anseia sempre por um contrato com gravadora.” Bonadio concorda: “Ser independente não leva a lugar nenhum no Brasil”.
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E fica a pergunta???? Sera que ser independente quer dizer que não tera futuro???
Sr. Rick Bonadio (grandiosissimo produtor), já ouviu falar de Racionais Mc's, e 500.000 cópias vendiadas independente?? Emicida? KAMAU? Pentagono???...acho q nao...
15/12/2009
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